Maconha: naturalmente devastadora
Fácil de cultivar e de
encontrar, relativamente barata, capaz de dar um "barato" legal,
amparada por quem defende sua liberação escorado em muletas científicas
capengas, a maconha sai destruindo e detonando tanto quanto suas congêneres
tidas como mais barra pesada.
O cigarro é
prejudicial porque pode, além de matar quem fuma, matar quem não fuma. O álcool
é problema de saúde pública em vários países (Ucrânia e Rússia, por exemplo,
onde o hábito de se derrubar uma garrafa inteira de vodca, em goles únicos, é
uma instituição).
Mas, de longe,
nenhuma dessas duas drogas causa tanta polêmica e discussão como a maconha. E
tudo porque suas ações no organismo podem ser defendidas tanto por quem a
estima como por quem a detrata. Quem ousa defender o cigarro com argumentos
científicos sobre suas benesses? Pesquisadores ingleses tentaram e foram quase
apedrejados.
Com o álcool, o
máximo que se pode dizer em seu benefício é que pequenas ingestões de vinho
podem auxiliar o ritmo cardíaco (o chamado bom colesterol). Passou disso, as
defesas só se escoram nos tamancos emocionais que essas duas drogas
proporcionam.
Com a maconha é
diferente. Suas propriedades terapêuticas são há muito tempo estudadas. E esse
é o ringue em que se batem os contendedores.
Para começo de
conversa, ninguém usa espontaneamente a maconha por causa de suas propriedades
terapêuticas. Usa porque gosta, já que ela induz, conforme o estilo de uso, a
um estado narcótico que propicia ao usuário a fuga da realidade. Seja porque
motivo for.
Se ela beneficia
alguma coisa no organismo do sujeito, o faz por tabela. Da mesma forma, a
pessoa que bebe não o faz porque é bom para o coração. Faz porque gosta e, a
depender dos tragos, também para dar uma escapadinha sabe-se lá para onde.
A maconha está
entre as primeiras drogas ilícitas a serem consumidas, até porque está presente
no cotidiano do homem desde priscas eras. Ela aparece no Pen Ts'oo Ching, texto
medicinal de origem chinesa, considerado o mais antigo do gênero no mundo
(6.000 anos atrás), onde é indicada para asma, cólicas menstruais e inflamações
da pele. Daí se pode aferir que a celeuma em torno de suas propriedades –
narcotizantes e medicamentosas – são antigas.
Uma vez que surgiu
nesse texto chinês, tudo indica que fazia parte do herbário do imperador Nung,
da China, há quase 5.000 anos. Outro tratado chinês de 2.000 anos indicava seu
uso como anestésico em cirurgias. Já na medicina Ayurvédica da Índia, a maconha
é recomendada como hipnótico, analgésico e espasmolítico.
No Brasil, seus
primeiros registros "medicamentosos" são desse século. "Os que
propunham o uso médico da maconha não apresentam nenhuma novidade, pois, na
primeira edição da Farmacopéia Brasileira, de 1929, a sua monografia incluía,
junto com o extrato fluido (solução), o pó e a tintura (solução alcoólica) de
cânhamo indiano (cannabis)", afirma o Dr. José Elias Murad, em seu livro
"Maconha: A Toxicidade Silenciosa" (Editora O Lutador, 1996, 250
págs.).
Ele estende o
assunto afirmando logo a seguir: "Já na segunda edição editada em 1959,
ela foi retirada porque os especialistas da época julgaram-na sem nenhum valor
terapêutico".
Hoje vários estudos
foram e estão sendo conduzidos no sentido de verificar sua eficácia no
tratamento de câncer, glaucoma, asma e epilepsia entre outros. Aventa-se a
hipótese de que a maconha possa ter propriedades anestésicas e antiasmáticas.
Pesquisadores debatem em torno de sua eficácia como estimulante de apetite e
quadros anoréxicos. Isso quer dizer que os estudos a respeito de sua qualidade
como medicamento prosseguem, o que dá munição para aqueles que defendem o uso
"tolerável e responsável" da droga.
A tolerância com
que se trata a comercialização da maconha talvez guarde relação com o modo de
administração com que ela chega ao organismo. A polícia, por exemplo, é muito
mais rígida com outras drogas – cocaína e crack — do que com essa velha
conhecida, quem sabe porque sua forma clássica de utilização resida numa
relação muito próxima com o cigarro. Aliás, é comum que o cigarro seja a
primeira droga com a qual a maconha é comparada.
A maconha é vendida
em pequenas quantidades, normalmente suficientes para um ou dois cigarros.
Feitas em trouxinhas de papel ou plástico conhecido por "parangas",
consiste num cigarro de tamanho usual que pode ser consumido por até três
usuários, dependendo da quantidade e qualidade da droga (a mistura, no Brasil,
é feita com capim, folhas secas e esterco de boi entre outras
"substâncias").
A fumaça é aspirada
intensamente e a pessoa chega a prender a respiração – algumas vezes apertando
o nariz com os dedos – para intensificar as conseqüências. Entre os utensílios
mais utilizados pelos usuários estão os papéis para fechar o cigarro,
conhecidos por "seda", e pequenas piteiras conhecidas como
"maricas", usadas para fumar a droga até o fim do cigarro sem que
para isso seja preciso queimar os dedos. Cachimbos também podem ser utilizados
para o consumo, mas isso é raro porque pode consumir mais maconha para que
sejam obtidos os mesmos efeitos.
Derivada de um arbusto da
família Moraceae que pode chegar a dois ou três metros de altura chamada
Cannabis sativa, também conhecido como cânhamo, a maconha pode ser cultivada em
praticamente todos os tipos de solo e clima, razão pela qual é utilizada em
culturas tão diferentes como a África do Sul, os EUA, o Brasil e tantos outros.
Planta dióica (ou seja, tem
espécimes masculinos e femininos), sintetiza várias substâncias (chamadas
coletivamente de canabinóides) dentre as quais os três principais são o canabinol,
o canabidiol e uma substância conhecida como delta-9-tetrahidrocanabinol (ou
simplesmente THC), que provoca alterações psíquicas importantes no usuário.
O teor aproximado de
canabinóides é de 2%, mas já se conseguiu teores da ordem de 11,8% no México e
27% na Holanda. A Cannabis indica, outra espécie da família, por sua
rusticidade é cultivada a temperaturas baixas no Afeganistão e Paquistão. Seu
teor de canabinóides é maior: cerca de 6%.
Defensores de sua
liberalização batem na tecla de que a Cannabis sativa pode fornecer inúmeros
outros produtos além do cigarro de maconha. Seu caule e galhos lenhosos
prestam-se à fabricação de roupas e sapatos. Certo deputado verde propôs a
confecção desses vestuários com a fibra da marijuana.
Com baixos teores de THC, a
Adidas lançou nos EUA um tênis reciclável feito de fibras da Cannabis.
Sugestivamente deu-lhe o nome de Chronic, gíria americana que designa o fumante
de maconha. A Sharon's Finest, companhia de comida natural da Califórnia,
lançou o Hemp Rella, queijo à base de sementes de maconha. Cosméticos,
detergentes e papéis podem ser gerados a partir da planta.
Bem se vêem as múltiplas
propriedades da planta que vai muito além da alucinógena e terapêutica. Mas se
ficarmos somente na questão da droga veremos que ela se relaciona intimamente
com outra questão que também opõe idéias: a questão econômica.
No Brasil, o
plantio e a comercialização da maconha é uma atividade rendosa. Não é sem
motivo que muitas pessoas abandonam o plantio de grãos. Na região conhecida
como o "Polígono da Maconha", região que vai de Petrolina, em
Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá lucro 45 vezes maior
que o de tomate e 200 vezes mais que o de feijão.
A importância
econômica da maconha para o sertão de Pernambuco, por exemplo, é notável.
Quando a polícia destrói plantações, os traficantes fogem e param de dar
emprego aos agricultores. Sem dinheiro, esses deixam de movimentar o comércio
local e as vendas caem.
Mas o plantio de
maconha não está restrito ao Nordeste, ainda que esse responda por mais de 90%
das plantações no Brasil. Norte, Sul e Sudeste já estão contabilizando bons
lucros com seu cultivo, o que leva a polícia a dar batidas sistemáticas nessas
regiões. Os traficantes contra-atacam: plantam em pequenas quantidades e as
disfarçam em meio a outras culturas.
Se comparado ao que
está sendo feito nos EUA, em termos de cultivo da planta, o tipo de manejo que
se faz no Brasil é jurássico. Quando o governo Reagan (1980-1988) aumentou a
pressão contra os plantadores, esses dispararam um processo de cultivo
altamente sofisticado.
Em vez de grandes plantações, passaram a abrigar a
Cannabis em estufas montadas em apartamentos. Com pesquisa genética, alta
tecnologia, manipulação de luminosidade, de nutrientes e dióxido de carbono, os
cultivadores colocaram nas ruas dos EUA espécimes com um teor de THC mais alto
e que completam a florada em apenas dois meses.
Numa área de dois
metros quadrados se concentram 100 pés de maconha. Tudo controlado por
computadores que zelam também pela segurança dos cultivadores. Com softwares
especialmente desenvolvidos eles podem se comunicar, dar alertas sobre a ação
da polícia e escapar da prisão.
Entre a população
estudantil, o uso da maconha, além de provocar todos os efeitos conhecidos,
causa queda no rendimento escolar, quando não o abandono dos estudos.
A Abraço –
Associação Brasileira Comunitária e de Pais para a Prevenção do Abuso de
Drogas, entidade de Belo Horizonte (MG) presidida pelo Dr. Murad atendeu, entre
novembro de 1991 e novembro de 1993, 325 pacientes. Segundo dados da
instituição, 68,4% desses eram usuários de maconha e do total geral (325), 39%
não estavam engajados em nenhum tipo de atividade escolar.
Dados do Cebrid –
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, entidade da
Universidade Federal Paulista – Escola Paulista de Medicina, colhidos pelo
professor Elisaldo Carlini em 10 capitais brasileiras, entre novembro de 1996 e
novembro de 1997, indicaram que a maconha é a segunda droga ilícita mais
utilizada, perdendo apenas para os solventes (veja
"droga&Família" nº 2).
Há como se imaginar
o esboroamento da vida do usuário pesado da maconha. Como na grande maioria dos
dependentes de outras drogas, o dependente da “marijuana” desenvolve uma série
de artimanhas, subterfúgios, simulações que dificultam sua recuperação. Até
porque ele não se considera doente da maconha.
A liberação lenta
do THC em seu organismo faz com que seus efeitos se mantenham mesmo depois que
está sóbrio, para usar um jargão mais próximo do alcoolismo. Nesse sentido, as
duas drogas – maconha e álcool – podem diferir radicalmente.
"Quando um
indivíduo, sob ação do álcool, procede de maneira alterada e, depois, sóbrio, é
relembrado disso, ele tende a separar a sua pessoa deste tipo de atitude ou
comportamento, com alegações do tipo "eu estava embriagado",
exemplifica o Dr. Murad. Com o usuário crônico de maconha ocorre que, mesmo
sóbrio, ele permanece com a mesma personalidade desencadeada pela ação da
droga, recusando-se a voltar "ao normal".
Kevin Mc Eneaney, da Phoenix
House de Nova York (*) – uma das maiores instituições de tratamento de usuários
crônicos de maconha –, afirma que "mesmo quando fica sem fumar, duas ou
três semanas, ao invés de voltar ao normal, o usuário teimosamente fica no
estado de "racionalidade" que desenvolveu induzido pela
maconha".
O Prof. Sidney Cohen, da Faculdade de Medicina da Universidade
da Califórnia, EUA (*), que fez um dos mais completos estudos sobre o uso da
maconha naquele país, afirma que a toxicidade comportamental da maconha,
proveniente do uso pesado da droga, mesmo por curtos períodos (entre três e
seis meses, por exemplo), induz a sutis ou pronunciadas modificações no estilo
de vida e nos objetivos do usuário.
Quando consumida durante boa
parte de horas em que está acordado, ele se entrega a uma sensível passividade
e perda de interesse por atividades, pessoas e objetivos. Sua vida pode se
esvair como a fumaça da maconha que exala e que o encanta.
Ao contrário de
outras drogas, não há casos comprovados de overdose por uso exclusivo de
maconha. Com animais, entretanto, há casos registrados na França (década de 40)
e em Viamão, Rio Grande do Sul (1995), quando animais morreram depois de
ingerir grande quantidade da erva.
Os que se batem por
sua liberação afirmam que ela nunca matou ninguém. A relação uso-óbito
realmente nunca foi confirmada, mas a participação da maconha como co-autora de
morte entre usuários é mais do que comprovada. Já que é comparada ao cigarro,
uma vez fumada, há como imaginar que tanto quanto o tabaco provoque, no mínimo,
os mesmos malefícios.
Liberar o uso da
maconha seria aumentar a maré de mortes por câncer, enfisema e edema pulmonar,
bronquite, pneumonia, hipertensão arterial, infarto. Como diminui os reflexos e
debilita a atenção, acidentes de automóveis são mais comuns entre os usuários
de maconha. Um levantamento feito no Canadá pelo Dr. Sterling Smith (*) mostrou
que, entre os motoristas envolvidos em acidentes fatais, 16% deles haviam
fumado maconha antes do evento.
Em defesa da Cannabis,
pode-se dizer que seu uso exclusivo não leva seu usuário a cometer atos
violentos, como é tão comum com o álcool, o crack e a cocaína. Ao que parece,
ela não modifica a personalidade de quem a usa, apenas a potencializa.
"A maconha é uma droga
idiotizante", afirma o Dr. Pablo Miguel Roig, psiquiatra do Instituto
Greenwood, clínica de recuperação de São Paulo. "A psicose canábica é um
quadro psiquiátrico muito grave, que se parece com a esquizofrenia paranóide,
provocada pelo efeito narcotizante da maconha", explica. O que não se sabe
é se ela detona uma psicose preexistente ou se provoca esse tipo de psicose.
O Dr. Murad afirma em seu
livro que "cada vez mais as pesquisas indicam que o uso da maconha é a
causa e não a conseqüência desses distúrbios psicológicos". Só para
ilustrar, no século XIX, o poeta Baudelaire escreveu o seguinte sobre a droga
em seu livro "Paraíso Artificial":
"O cérebro e o
organismo sobre os quais opera o haxixe oferecerão apenas seus fenômenos
comuns; aumentados, é verdade, mas sempre fiéis às suas origens".
Nunca matou ninguém
comprovadamente e não leva seus usuários a atos violentos. Certo. E quanto ao
suicídio? É sabido que usuário de drogas, sejam elas quais forem, estão muito
mais propensos a dar cabo da própria vida do que outras pessoas.
Se foge da
realidade por meio da droga, pode chegar um dia que nem ela esteja mais
proporcionando isso. E é aí que a droga tornar-se um bilhete sem volta. O
suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens de 15 a 18 anos nos EUA, de
acordo com o Dr. Murad.
Em seu livro, ele
afirma que um relatório americano concluiu que adolescentes daquele país
constituem o único grupo etário cuja mortalidade subiu nas duas últimas
décadas. "A razão principal disso", continua, "é a deficiência
para dirigir, provocada por álcool e outros drogas, e o suicídio relacionado
com o uso de drogas". O suicídio entre os adolescentes americanos
triplicou nas duas últimas décadas, o que coincide com a epidemia de uso de
drogas, principalmente a maconha.
Muitos
profissionais que lidam com jovens usuários crônicos de maconha diagnosticam,
com preocupante constância, crises psicóticas aliadas a estados depressivos com
tendências suicidas. Se a maconha não provoca mortes diretamente pode, sem
dúvida, provocá-las indiretamente, pelos efeitos do uso prolongado e/ou
concomitante com outras drogas. Por isso, à maconha não deve ser debitada a
exclusividade de um índice maior de suicídios entre seus usuários.
No ano passado, a
polícia do Rio de Janeiro estourou uma "boca de fumo" onde encontrou
"craconha". Mistura de crack com maconha, o mix que compõe "o
produto" leva solvente, ácido, talco, mármore e outros componentes menos
nobres ainda.
O uso de maconha
com álcool é comum e conhecer os processos usados pelo organismo para
metabolizar a droga é suficiente para saber porque o corpo vai à lona e pode
não se levantar mais: alguns canabinóides deprimem o centro do vômito que, como
se sabe, é uma espécie de defesa do indivíduo alcoolizado para eliminar o
álcool do organismo; ora se o vômito não ocorre, por estar deprimido o seu
centro pela ação da maconha, é lógico que o risco de morte é muito mais
pronunciado.
Entretanto, os
gladiadores que defendem e atacam a maconha encontram-se no coliseu maior da
discussão quando o tema é a propriedade medicamentosa da Cannabis.
Os primeiros dizem
que seus efeitos terapêuticos, em algumas situações, depõem a favor de sua
liberação e demonstram que sua ação no organismo não é tão deletéria quanto se
alardeia.
Os segundos afirmam
que, muito embora algumas ações benéficas da Cannabis tenham sido
identificadas, drogas mais atuais, sintetizadas por laboratórios, são muito
mais convenientes, eficazes, não possuem a ação narcotizante da droga e,
portanto, desvestem (ou ao menos esmaecem bastante) a aura de
"remédio" que os primeiros colocam na maconha.
Essa é uma das
discussões mais acesas e o fogo foi atiçado depois que a prestigiosa revista
britânica New Scientist ( www.newscientist.com
) revelou que ninguém menos que a OMS – Organização Mundial de Saúde censurou
um relatório produzido pelos seus próprios pesquisadores no qual os mesmos
afirmam que a maconha faz menos mal que o álcool e o cigarro.
Segundo a revista,
o estudo comparativo entre a maconha e outras drogas legais, que foi suprimido
do relatório sob pressão da OMS, dizia que a maconha, se consumida na mesma
escala do álcool e do cigarro, traria menos prejuízos ao organismo do que essas
duas últimas.
O relatório também
concluía que embora existam provas dos efeitos prejudiciais do álcool sobre o
feto, o mesmo não se podia dizer da Cannabis porque os estudos não são
conclusivos. O trabalho esclarece ainda que a maconha não causa bloqueio das
vias respiratórias, enfisema pulmonar ou qualquer outro dano às funções
pulmonares e vicia menos que o cigarro e o álcool.
Alguns
profissionais que participaram do estudo defendem a posição da OMS alegando que
a pesquisa não é útil do ponto de vista social, uma vez que, no subliminar,
pode induzir ao consumo da maconha. Seria uma autêntica "escolha de
Sofia", ou seja, se é para se drogar, se é para se entregar a algum vício,
que o usuário danifique o seu organismo e sua mente com a droga menos
prejudicial. Absurdo!
No caso dos
medicamentos antieméticos, muito embora o FDA – Food and Drugs Administration
tenha liberado a comercialização de um produto à base de Cannabis para esse
tipo de tratamento, as conclusões quanto à sua eficácia são discutíveis.
Tanto o Marinol, utilizado
nos EUA, quanto o Nabilone, presente no Canadá, são empregados em forma de
cápsulas para o controle de crises de náuseas e vômitos em pacientes com câncer
submetidos à quimioterapia.
Resultados colhidos
em algumas pesquisas demonstram que cerca de 30% a 50% dos pacientes realmente
apresentam bons resultados, mas tais percentuais são achados principalmente em
pessoas mais jovens e, mesmo assim, não foram melhores do que alguns dos
antieméticos clássicos conseguiriam também produzir.
Tais medicamentos são
utilizados ainda na caquexia, uma condição muito presente nos pacientes HIV
positivos, caracterizada pela ausência de apetite, com conseqüente surgimento
de quadros anêmicos que concorrem para o agravamento da doença. Com o Marinol e
o Nabilone, tais pacientes teriam seu apetite restaurado.
O Dr. George Hyman,
oncologista da Universidade da Colúmbia, EUA (*), afirma: "Como o THC é
solúvel nas gorduras, não pode ser injetado por via endovenosa; administrado
por via oral ou fumado, sua biodisponibilidade (que corresponde à quantidade
ativa da droga que entra na corrente sanguínea) é de apenas 6% a 20%, o que
fica bem abaixo da metoclopramida (Plasil), por exemplo, droga que pode ser
administrada por via endovenosa e que dá uma biodisponibilidade de 100% com
poucos efeitos colaterais e nenhuma ação mental".
Bem se vê que tudo o que diz
respeito às propriedades terapêuticas da maconha ainda são objeto de estudos
que devem ser aprofundados.
Apesar de acompanhar o homem
desde seus primórdios, a maconha obteve o interesse da comunidade científica
apenas a partir de 1964, quando o pesquisador Raphael Mechoulan, da
Universidade de Tel Aviv, Israel, extraiu e sintetizou o THC. "A maconha e
o THC ainda não mostraram ser realmente úteis nas patologias descritas; mesmo
quando suas ações são comprovadas, elas são inferiores às de outras drogas
encontradas no mercado, que têm a vantagem de não apresentarem efeitos
colaterais, principalmente psíquicos", alerta o Dr. Murad.
De tudo isso o que
se pode inferir? Pelo menos uma coisa: maconha é droga. Alegar que ela possui
alguma condição medicinal não tira seu cerne maior de droga. Se a sociedade
continuar a bater nessa tecla, terá de permitir que a cocaína seja liberada
(afinal, Freud tratou e se tratou com cocaína), a morfina, os ansiolíticos e
toda um sorte imensa de drogas que possuem um subextrato de amenização de
sintomas danosos ao organismo.
"Volto a
dizer: a maconha é uma droga idiotizante; ela está sendo divulgada como uma
droga fraca, uma droga que faz menos mal do que o cigarro, que não tem
conseqüência nenhuma e isso, além de ser uma mentira deslavada, é uma
irresponsabilidade", dispara o Dr. Roig. "Quando ouço o Gabeira, o
Lobão, a Rita Lee divulgarem essa droga fico revoltado porque eles só alimentam
uma população de adolescentes que usam ou vão usar maconha com conseqüências
funestas como baixo rendimento escolar, atenção e memória alteradas,
desmotivação; e tudo isso leva a um desempenho, escolar e de vida,
medíocre", sentencia.
O Dr. Mitchell Rosenthal,
diretor do Phoenix House, de Nova York (*), a maior instituição de tratamento
de usuários de drogas dos EUA, enuncia, como que referendando o alerta do Dr.
Roig, que "inúmeros adolescentes e jovens não vão amadurecer como
deveriam, não terão os ganhos intelectuais que deveriam ter nos seus anos de
crescimento, não se tornarão os cidadãos produtivos e capazes de que a
sociedade precisa". E o uso de maconha colabora decisivamente para isso.
Para ilustrar, o Dr.
Mitchell tira do jaleco uma conclusão extraída de pesquisas americanas que
demonstram que "crescem as evidências de que, entre os adolescentes e os
jovens, a maconha é uma das maiores causas de problemas psiquiátricos que os
EUA vêm enfrentando". Corroborando a assertiva do médico, o NIDA —
National Institute of Drug Abuse (Instituto Nacional de Abuso de Drogas, dos
EUA) informa que "a cada ano, aproximadamente, 60 mil pessoas, a maioria
jovens brancos que vivem com os pais, procuram tratamento para problemas
relacionados ao uso da maconha; esse tratamento, geralmente ambulatorial, dura
quatro meses em média, registrando um índice de retorno de cerca de 20%."
Entorpecidos pela
ação da maconha e drogas acessórias, o adolescente poderá fazer emergir uma
pessoa com conceitos distorcidos. O cérebro, espremido e afetado por anos de
uso das drogas, buscará referenciais dos momentos em que não estava afetado,
levando o usuário a comportamentos incompatíveis com sua idade. Ele
simplesmente pára de amadurecer e crescer no momento em que começa a se drogar.
O Dr. Jason Baron,
diretor médico do Hospital "Deer Park", de Houston, EUA (*), que
trata exclusivamente de usuários de drogas na idade de 14 a 25 anos, relata:
"Tenho visto usuários de drogas de 18 anos ou mais que quando se livram da
maconha começam a brincar com miniaturas de carros ou bonecas, tentando
retornar ao tempo que não tiveram ou conheceram; felizmente, com tratamento
adequado, pode-se ensinar-lhes certas habilidades que lhes permite recapturar a
falta dos anos da infância ou adolescência perdidos".
O Dr. Roig postula
uma tese mais sombria quando afirma que a sociedade de hoje, por estar
saturada, está descuidando das novas gerações. "Quando há saturação, a
sociedade começa a machucar as novas gerações". Ele fala de
permissividade. É como se fosse a lei da evolução natural.
A falta de controle
dá raízes esquálidas e imaturas, mas abundantes, a uma geração que não está
muito preocupada em herdar bons valores, não se agredir e nem aos outros. São
essas pessoas, sem o menor verniz de cidadão (até porque, no caminho em que se
encontram, não sabem o que é cidadania), que moldarão as próximas gerações.
"Podemos
prever o crescimento de uma população de imaturos, adultos não qualificados,
vários deles incapazes de viver sem um suporte social, econômico e clínico; com
o tempo, teremos um número inimaginável de cidadãos emocional, social e
intelectualmente deficientes", sinaliza o Dr. Rosenthal.
Será que devemos
assistir passivamente aos herdeiros desse mundo bebendo, fumando, injetando e
inalando a morte em nome de uma individualidade torturada e entortada pelas
drogas?
Todas as
referências com (*) e todas as afirmações feitas pelo Dr. Murad foram tiradas
do livro "Maconha: A Toxicidade Silenciosa", Dr. José Elias Murad,
Editora O Lutador, 1996, 250 págs.
A propósito: Esta
matéria foi reproduzida da revista "droga&Família" N. 3 – Ano 1,
que é contra a liberalização da maconha. Nós do Ministério Adonai endossamos,
também, nosso pesar por declarações como, por exemplo, um deputado Estadual do RJ,
chamado Fernando Gabeira, que tem feito um enorme “glamour” em torno da
maconha; gerando uma grande dúvida na cabeça dos jovens.
Este indivíduo,
eleito pelo voto popular (não sei como), deveria consultar diariamente notícias
nos jornais, delegacias, hospitais, onde o resultado do consumo de drogas,
junto com o tráfico, mais as conseqüências desastrosas dentro da sociedade, tem
gerado um sem número de vítimas e de todo tipo de violência contra a família,
contra o cidadão comum, o estudante e o trabalhador.
Pessoas têm sido
violentadas em seus direitos de ir e vir, em virtude das guerras promovidas
pelo tráfico. Pessoas que perdem seus bens conquistados com muito suor por
vagabundos consumidores e viciados em drogas. Pessoas que são sequestradas e
mortas por traficantes e toda espécie de viciados e psicopatas.
O inferno promovido
pelas gangues de ruas (bondes), formadas por jovens usuários de drogas, que
teimam em se divertir, matando, batendo, surrando, ferindo, como cãos selvagens
e indomáveis, cheios de fúria, irados, narcotizados, debilitados mental e
moralmente, pelo consumo de uma droga totalmente idiotizante.
Se liga, Gabeira.
Se liga, brother.
Se liga,
autoridades.
Se liga, sociedade.
Deixem de ser meros espectadores;
tomem uma posição
nessa luta!
Ou este mundo se
transformará em um imenso manicômio.
Gilmar Corrêa
Diretor e Pesquisador
O Portal do Saber e Ministério Adonai