O terapeuta e diretor da clínica ambulatorial de Goiânia, que compõe a rede da Clínica Terapêutica Viva, José Norberto Fiuza escreveu um artigo a respeito do debate da Câmara Federal sobre o uso terapêutico da maconha, que o especialista cita como pseudo uso. Leia-o a seguir.

Em que se fundamenta realmente esta proposta e a quais interesses estão por trás do debate da Câmara Federal?

Primeiramente, é importante tornar público que o Brasil é signatário do tratado internacional que proíbe o uso da maconha para fins terapêuticos. Este tratado não foi assinado por centenas de países sem que haja um motivo cientificamente comprovado de que os malefícios são muito maiores que os “pseudo-benefícios”.

De longa data, existe disponível no mercado farmacêutico, medicações que atendem com plena eficácia os fins para os quais o “pseudo uso terapêutico” da maconha esta sendo proposto.

Não existe nenhuma doença ou sintoma que não tenha uma resposta farmacológica efetiva e que realmente necessitem do uso da maconha!

Enquanto o Ministério da Saúde, através da Vigilância Sanitária, luta pela proibição do uso de diversas drogas, como: anfetamina, sibutramina, femproporex, entre outras tantas; que fizeram com que milhões de brasileiros se tornassem dependentes, a Câmara Federal, através de nossos representantes, está usando nosso dinheiro para debater uma questão que está totalmente oposta ao que seria sua atribuição. O “pseudo uso terapêutico” da maconha, uma substância psicoativa, que comprovadamente gera dependência, podendo desencadear transtornos mentais e de comportamento, extremamente graves.

Atualmente, o Brasil é o maior consumidor de anfetamina e similares em todo o mundo, que também foram criadas com fins terapêuticos e já estão proibidas em muitos países.

No CID (Código Internacional de Doenças) o cannabismo ou o uso de maconha, é classificado como “Transtorno Mental e de Comportamento” e é considerado uma doença com sintomatologias orgânicas, emocionais, psíquicas e comportamentais graves.

A cocaína teve a mesma aparição na humanidade, “fins terapêuticos”. A substância ativa da planta Erythroxylon Coca foi isolada em 1859, por Albert Niemann e foi na década de 1880 que a cocaína pura começou a ser produzida e comercializada. Como anestésico, começou a ser muito prestigiada pela sua eficiência na oftalmologia, que havia tempos procurava um bom anestésico local para realizar cirurgias com os pacientes conscientes. Os sucessos obtidos logo corriam pelo mundo.
No CID o uso de maconha, é classificado como “Transtorno Mental e de Comportamento” e é considerado uma doença.
Os militares começaram a tomar interesse pela cocaína e em 1883, Theodor Aschenbrandt, um médico alemão, testou a cocaína em alguns membros do exército bávaro e observou que sua resistência aumentava. Dessa maneira, crescia ainda mais a popularidade da cocaína.

O famoso neurologista Sigmund Freud era pago por empresas de remédios para estudar e divulgar os benefícios da cocaína e assim, em 1884 escreveu “Über Coca”, onde concluía seus estudos sobre a cocaína, onde dizia que ela podia ser usada como um estimulante mental, para tratar de problemas digestivos, para aumentar o apetite, como afrodisíaco, para tratar asma, como um anestésico local e para ajudar os dependentes de álcool e morfina a se livrarem do vício.

A última reivindicação de Freud causou controvérsia e atualmente o seu uso não é mais recomendado, pois causa tanta dependência quanto à morfina.

Na década de 1880 foi descoberta a potência da cocaína quando injetada e essa forma de uso se popularizou. O primeiro cartel da cocaína, o Sindicato dos Fabricantes de Cocaína, foi formado em 1910, em Amsterdã, por grandes empresas de remédios.

Atualmente, a cocaína, mesmo que ilícita, faz parte da economia mundial e o que é produzido nos laboratórios clandestinos movimenta muito dinheiro pelo mundo todo. O ser humano, em nome da ciência, repete a sua história e padrão comportamental de auto destruição, com a receptividade e conivência de cientistas e legisladores.

Como pode? Pessoas que se dizem representantes da ciência, do povo, se prestarem a este desserviço ao nosso país e aos brasileiros. Eles deveriam nos proteger e lutar para que tivéssemos acesso à saúde e não a drogas que gerem doenças!

Onde estão realmente fundamentadas estas propostas? Até onde vai o poder e o Lobby das Indústrias Farmacêuticas, que movimentam trilhões de dólares, adoecendo seres humanos em nome da cura?

Se tiveram, naquela época, o poder de comprar pesquisas de Freud, imaginem hoje o quanto ou quantos podem comprar?

Artigo de José Norberto Fiuza – Terapeuta com aproximadamente 30 anos de experiência e diretor da clínica ambulatorial de Goiânia da Clínica Terapêutica Viva.