O
Nome Do Salvador Jesus Cristo
(em resposta a postagem de Márcio)
Para
entender o nome "Jesus" é preciso saber que esse
nome significa "Salvação de YHWH":
יהֹוה
(YHWH)
e ישע
(SALVAÇÃO).
O
grande problema, do ponto de vista fonético, é que a
correta pronúncia do tetragrama (YHWH) foi perdida através dos
tempos, posto que os hebreus evitavam pronunciar o nome do Criador
revelado a Moisés, para não tomar o Seu nome em vão
(Êxodo 20:7).
Então,
é muito arriscado e totalmente incoerente afirmar categoricamente qual é
a correta pronuncia do nome de Jesus.
A única fonte histórica
que temos é a própria Bíblia. Este artigo visa
trazer informações a você, ao mesmo tempo em que intenciona mostrar que muitos têm
se embrenhado pelo caminho errôneo do legalismo e da pseudo
justificação mediante a letra.
ANTIGO
TESTAMENTO
No
Antigo Testamento, cuja maior parte foi escrita em hebraico, aparecem
duas formas de grafar esse nome (salvação de YHWH).
Essas são as formas:
יהוֹשוע
ישוע
Esse
nome é transliterado, nas traduções feitas ao
português, como Josué, cujo principal exemplo é o
do auxiliar de Moisés, que o sucedeu na liderança do
povo de Israel. Nas bíblias em idioma inglês, esse nome
foi transliterado numa forma bem mais próxima à
possível pronúncia original. Em inglês Josué
é Joshua.
Joshua ou Josué significa "Salvação de YHWH". Porém, permanece a questão da correta pronúncia da primeira parte, já que a segunda parte (shua) significa "salvação" e é assim mesmo que pronuncia: shua.
O
segundo nome, que é uma forma abreviada do primeiro, significa
também "YHWH salva" ou "Salvação de YHWH".
Um claro exemplo disso está na pessoa do sumo sacerdote Josué,
o qual viveu na época de Zorobabel. Nos livros de Ageu (Ageu
1:1) e Zacarias (Zacarias 3:1), ele é nomeado com a forma mais
completa (יהוֹשוע),
enquanto
que em Esdras (Esdras 3:2) e Neemias (Neemias 7:7) ele é
nomeado através da abreviação ישוע.
Nesse último
caso, o mesmo sumo sacerdote tem o nome transliterado para "Jesuá".
Isso mostra
claramente que, mesmo no âmbito dos escritores do Antigo Testamento,
notadamente naqueles pós-exílio babilônico, não
havia maiores distinções entre uma forma e outra, já que
ambas significam a mesma coisa.
Logo, além de
ficar patente que a correta pronúncia do nome do Senhor Jesus
deve passar necessariamente pela correta pronuncia do tetragrama, a
qual é desconhecida, fica constatado também que, mesmo
entre os escribas judeus que viveram há aproximadamente 500 ou
400 anos antes de Cristo, não havia maiores distinções
entre a forma completa do nome e a sua abreviação.
Essas duas
constatações
mostram, de forma direta, a grande incoerência dos modernos
legalistas quando defendem que apenas quem pronuncia o nome de Jesus
de uma certa forma (a forma "certa" dependerá de
cada ramificação dessas correntes legalistas), será
ouvido por Ele ou será salvo...
NOVO
TESTAMENTO
Já
no Novo Testamento, o nome do Salvador foi transliterado para
Iēsous. Então, partindo da premissa da impossibilidade
prática de afirmar com certeza qual era a correta pronuncia de
YHWH e levando em consideração o testemunho do Antigo
Testamento do nome Joshua em suas duas formas e a transliteração
que os escritores do Novo Testamento dão ao nome de Jesus
(Iesous),
o mais provável é que a pronuncia original do nome de
Jesus no século I era Yeshua.
Como
não há relatos históricos que versem
sistematicamente sobre a correta pronuncia de YHWH, a fonte mais
confiável é a própria Bíblia. O grande
problema é quando começa-se a questionar a
autenticidade da Bíblia, como fazem aqueles que
se opõem à transliteração "Jesus". Se
os evangelistas (Marcos, Lucas e João), além de
Paulo e de outros apóstolos que escreveram livros do Novo Testamento,
usaram a palavra grega Iesous, não há nenhuma sustentação
para que nós não a usemos.
No
entanto, a mais correta pronuncia seria Yeshua,
podendo também ter sido Yashua,
considerando a possível pronuncia do tetragrama como "Yahweh",
através da abreviação YAH encontrada no livro de
Salmos e na palavra de adoração Halleluyah. É bom
lembrar que Jehovah não é a pronuncia que
mais se aproxima de YHWH, pois é uma junção
dessas consoantes (YHWH) com as vogais da palavra Adonai. É
uma palavra híbrida criada para substituir a pronuncia do
tetragrama, cuja real pronuncia vocálica havia sido esquecida,
restando apenas as consoantes... O que mais se aproxima é,
como já mencionamos, "Yahweh".
Então,
o mais provável é que as pronuncias do nome do Senhor
tenham sido Yeshua ou Yashua. Recordamos que estamos falando do
século I d.C, considerando que o idioma falado naquele então
sequer era o hebraico, mas o aramaico.
A
TRANSLITERAÇÃO
A
transliteração é usada habitualmente quando há dificuldades
de pronuncia e/ou de leitura de um idioma para outro. Para
os gregos e para os romanos,
assim como para quase todas as nações gentílicas
no século I, era difícil pronunciar, escrever ou até mesmo
ler a palavra "Yeshua". Por isso, ocorre a
transliteração. Outro exemplo
claro é Yôḥānān (hebraico),
nome do apóstolo João, transliterado para "João" em portugués ou "John" em
inglês.
No
entanto, o âmago da questão, em nosso entendimento, está
além do simples fato de saber a correta pronúncia do
nome do Senhor. O fato de alguém querer saber a correta pronúncia
é muito importante e esse exemplo deveria ser seguido por
todos.
Porém,
têm se levantado nestes últimos dias grupos de
legalistas, bem no estilo daqueles que dificultavam o trabalho de
Paulo entre os gentios, aos quais Paulo chama de inimigos da cruz de
Cristo (Filipenses 3:18), escravos da letra e das regras, os quais
ensinam dia e noite que apenas quem pronunciar corretamente o nome
de Jesus no original estará apto para falar com Ele e que
outras formas são uma abominação...
Essa
postura, além de ser infantil, já que ninguém
pode jactar-se da capacidade de saber como realmente se pronunciava o
tetragrama, se opõe à própria Graça de
Deus, na qual o Pai reconcilia consigo mesmo o mundo e deseja
relacionar-se conosco como um Pai se relaciona com seus filhos... A
Graça de Deus propõe ao ser humano uma relação
espiritual íntima entre Ele e o homem. Que o ser humano
conheça a PESSOA de Deus através de Cristo. Quem conhece a
pessoa de Deus, não será desprezado por Ele pelo
simples fato de não saber pronunciar Seu nome de acordo com os
originais hebraicos. Isso vai muito mais além de conhecer as
letras e pronuncia certas... É conhecer e ser um em unidade
com Cristo, através de Seu Corpo.
Uns
dizem que é Yeshua, outros que é Yeohushua. Um grupo afirma categoricamente
que é Yaohushua, mas outro diz que é Yahushua. Existem os que ensinam que é
Yashua, e por aí vão
as opções... Cada grupo sustentando que apenas quem pronuncia
corretamente o nome pode relacionar-se com Cristo....
Se
hoje já existe essa verdadeira idolatria à "correta" pronúncia
do nome Jesus, imaginamos como seria se soubessem ao certo qual era a pronuncia
de YHWH... Aí a idolatria em torno
do nome, cremos, seria maior e se esqueceriam ainda mais da Pessoa e da Graça
de Deus, que nos propõe o relacionamento com o Pai Eterno muito além
das regras e letras... Por alguma razão Deus não
permitiu que a correta pronuncia do tetragrama chegasse até
nós, pois certamente os homens usariam isso como um talismã
ou como uma palavra mágica...
Um
pai continuará amando e cuidando de seu filho, mesmo que este
não saiba pronunciar corretamente seu nome... Mesmo que o
chame apenas de Pai... Mesmo que não pronuncie qualquer
palavra e apenas o olhe com amor e obediência...
O
Senhor não amará menos ou deixará de
relacionar-se com quem não pronunciar determinada letra do Seu
nome ou quem não souber pronunciá-lo bem... Se fosse
assim, gagos e fanhos, por exemplo, estariam fadados à
perdição...
Outro
fato grave é que este grupo de modernos legalistas, amantes
das letras e inimigos da Graça, afirma que o próprio
Novo Testamento foi modificado por homens para inserir a palavra
Iesous (Jesus). Ou seja, as 998 vezes em que essa palavra aparece, de
acordo com essa afirmação, é fruto de uma
manipulação de pessoas que estavam mancomunadas com o propósito
de trocar a correta grafia do nome de Jesus para a grafia Iesous...
Pensar
assim, além de relativizar as Escrituras e tornar Deus um ser
impotente para preservar Sua revelação, é fechar
os olhos para a clara constatação histórica de
que os textos mais antigos do Novo Testamento já trazem a
transliteração "Iesous" e que os primeiros
irmãos, em muitos escritos dos séculos I a III, se
referem à palavra "Iesous", posto que o grego e
não o hebraico era o idioma preferencial daquela época.
Imagine
Paulo escrevendo aos coríntios e exigindo que eles
pronunciassem corretamente o nome de Jesus, de acordo com o hebraico,
ou João escrevendo as cartas apocalípticas
às igrejas na Ásia
Menor com a mesma exigência... Nem sequer os israelitas falavam
o hebraico! Eles falavam uma língua parecida com o
hebraico, chamada aramaico...
Há
cópias dos evangelhos e das cartas de Paulo que datam do
século II e começo do III. São todas escritas em
grego. Por exemplo, o PAPIRO 46, o qual encontra-se na Universidade
de Michigan, Dublin, data de 175-225. Apesar da deterioração,
dá para ler vários trechos de algumas cartas de Paulo.
Na figura abaixo pode-se ler o trecho de II Coríntios
11:33-12:9

FRAGMENTO
DO PAPIRO 46
O único livro do Novo Testamento que pode ter sido escrito em
hebraico é o Evangelho de Mateus. Mesmo assim, com base nos
escritos de irmãos dos séculos I e II, não há
qualquer menção à correta pronuncia do nome de
Jesus nem à supremacia desse Evangelho sobre os outros.
Vejamos o que escreveu Papias, o qual foi discípulo do
apóstolo João, a respeito do Evangelho de Mateus:
"Mateus
compôs sua história [a respeito de Jesus] em dialeto
hebraico e cada um traduzia segundo a sua capacidade"
(Papias - História Eclesiástica de Eusébio)
Vejamos
que, mesmo considerando o único livro do Novo Testamento que,
originalmente, pode ter sido escrito em hebraico, Papias aponta para
traduções feitas de acordo com as "capacidades de cada um"...
Ou seja, nem mesmo no século I havia essa ideia
legalista sobre a correta pronúncia de palavras, entre elas o
nome de nosso Salvador.
Outro
a comentar sobre o Evangelho de Mateus é Irineu:
"Mateus,
de fato, produziu seu evangelho escrito entre os hebreus no
dialeto deles..." (Irineu - História Eclesiástica
de Eusébio)
No
caso acima, fica claro que Irineu, um dos anciões da Igreja no
século II, considerava a escrita de um Evangelho em hebraico
como uma opção para que os judeus entendessem mais
sobre a história de Cristo e não como um padrão
a ser aplicado a todas as demais igrejas. Irineu deixa clara a
diferença entre "o dialeto deles" e o seu próprio.
Nada aponta para o moderno legalismo em torno da correta pronúncia
do nome de Cristo.
É
possível que cópias das cartas de Paulo e dos
Evangelhos tenham sido vertidas para o hebraico nos primeiros
séculos, mas não há prova cabal disso. E, mesmo
que houvesse, não invalidaria o fato verdadeiro de que já
nos primeiros anos da Igreja o uso do nome transliterado do Senhor já
era amplamente difundido através das próprias cartas de
Paulo, dos Evangelhos, do Apocalipse e de outras epístolas,
além de ser citado em centenas de escritos de vários
irmãos entre os séculos I e III.
O
NOME OCULTO
Por último, o Senhor tem um nome que NINGUÉM conhece e que
só será revelado em Sua gloriosa volta:
"E
vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava
assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com
justiça. E
os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça
havia muitos diademas; e
tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele
mesmo" (Apocalipse
19:11-12)
Então,
a vontade conhecer a correta pronuncia original do nome Jesus é
louvável e deve ser incentivada. No entanto, devemos ter
cuidado com aqueles legalistas enlouquecidos pela letra e por líderes
inescrupulosos e sectaristas, que querem condicionar a Graça
de Deus à pronuncia que ELES dizem ser a correta. E não
é somente referente ao nome Jesus, mas ao termo "Deus", "Cristo" e
por aí vai...
Vejamos, como
amostra, um texto retirado da internet que mostra bem a ideologia por
trás
desses movimentos:
"...Se
os caros irmãos querem mesmo entrar no Reino de Deus, devem
ser batizados imediatamente no Nome do Cordeiro de Deus, que é
Yahushuah e retirar da vossas almas e dos seus corações
a trindade do Vaticano e nunca mais mencionar os nomes: Senhor
e Jesus nas
vossas orações e louvores, pois estes dois nomes
são eufêmicos e dão louvores a dois ídolos
pagãos, que são Baal e Tamuz..."”
Seguindo
esse louco raciocínio a respeito da palavra "senhor", associada
a Baal, então não poderíamos, por exemplo, chamar Jesus
de "rei", posto que esse termo já fora usado antes
de Jesus para descrever, entre outros, ao devasso Manassés ou
ao louco Belssazar...
Quem
conhece pessoalmente Jesus sabe que Ele escuta o coração
da pessoa, não o seu idioma. Em Seu ministério, Ele
atende à mulher grega, siro-fenícia de nação,
ouve o centurião romano que lhe roga pelo seu servo doente...
Ele os ouve, os ama e se relaciona com eles. Chega a elogiar a fé
do romano: "....Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel
encontrei tanta fé..." (Mateus 8:10). Duvidamos muito
que esses e tantos outros de outras nacionalidades que se aproximaram
do Senhor, sabiam pronunciar corretamente Seu nome ou o chamaram pelo
nome...
Quem
verdadeiramente tem um encontro com Cristo e O conhece pessoalmente,
saberá que o que importa é precisamente isso. Os
formalismos e legalismos são desprezados. A sinceridade e a fé
são colocados num alto patamar.
É
óbvio que todo sectarismo cria uma sensação de
exclusividade em seus membros. Uma sensação que
preenche a alma e o ego, mas que não tem valor
espiritual algum.
Acreditar fazer parte do único grupo seleto de "verdadeiros" pronunciadores
do nome de Jesus (verdadeiros entre aspas, posto que a correta pronúncia
não
é conhecida e até mesmo entre esses grupos legalistas
há divergências enquanto ao número de letras e
ordem das vogais), é ir contra o propósito do Senhor
para Sua Igreja.
O chamado de Jesus é que sejamos perfeitos em
unidade (João 17:23). Nada contra pesquisar, estudar e
aproximar-se o máximo possível à correta
pronúncia do nome de nosso Salvador... No entanto, fazer disso
um sectarismo é ir contra a própria oração
do Senhor.
Estamos
diante do clímax da aniquilação deste mundo,
enquanto sistema maligno. Estamos vendo os sinais se cumprindo e o
tempo do glorioso regresso do Rei Jesus cada vez mais próximo...
Enquanto isso está ocorrendo, pessoas, tais quais criancinhas
disputando quem pronuncia melhor o nome do pai, ficam se digladiando
sobre a correta pronuncia do nome de Jesus.
Quando
e se amadurecerem
espiritualmente, deixando de lado o legalismo infantil, saberão que o verdadeiramente importante é ser templo
do Espírito de Deus e ter Jesus todos os dias conosco, fazendo
parte do Seu Corpo.
Quando isso ocorrer, os gemidos inexprimíveis
do Santo Espírito em nós clamarão ao nome do
Filho de uma forma infinitamente mais clara e correta do que qualquer
mortal poderia fazê-lo.
Em
Cristo,
Gil Corrêa (em resposta ao comentário de Márcio) postado na matéria sobre Semíramis.