quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A Parábola do Cisco e da Trave


A PARÁBOLA DO CISCO E DA TRAVE.



"Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão" (Mateus 7:1-5).

A dupla parábola que temos aqui está curiosamente aliada à que vem em seguida, sobre os cães e porcos, mas vamos examinar cada par sepa­radamente. 

As quatro figuras de lin­guagem estão unidas entre si, uma vez que tratam de um só tema que o Senhor ilustra, ou seja, os princípi­os que nos devem reger quando for­mos exercer algum julgamento. Ambas as "duplas", igualmente, po­dem ser exercidas e podem aconte­cer em nossa vida. 

Quando nosso Senhor disse "Não julgueis, para que não sejais julgados", protestava contra aquele tipo de julgamento que condena. 

É necessário que haja um senso de seleção, e quando Cristo usa o exemplo do cisco e da trave, orde­na isso, e o uso que fez daqueles exemplos mostra que podemos exer­cer julgamento de forma errada; e o exemplo dos cães e porcos mostra como o julgamento, mesmo sendo terrível ao ser aplicado, tem de ser exercido. 

Se for para julgarmos, não deve ser segundo a aparência, mas um julgamento justo, baseado no exercício de perceber as diferenças e fazer a classificação. E assim que o Juiz de toda a terra julga. Qual é o verdadeiro significado das imagens notáveis do exemplo do cisco e da trave?

1.  Cisco. Temos aqui uma peque­na lasca, um pequenino pedaço da trave, um minúsculo objeto. Ellicott comenta que o substantivo grego tra­duzido aqui significa um "talo" ou "renovo" e não uma partícula de po­eira voando pelo ar, que nos vêm à mente quando pensamos na palavra "cisco". Uma ilustração como essa era familiar aos judeus e encontra-se nos provérbios e sátiras de todos os professores da nação sobre estar pronto, quando se trata de ver as faltas dos outros; e estar cego aos seus próprios defeitos. As falhas pes­soais merecem a atenção perspicaz e cuidadosa que nunca lhes damos. Robert Burns apresentou uma ver­dade preciosa nestes versos: Oh! que Poder nos foi dado, De ver-nos como os outros nos vêem!

2. Trave. Esse termo significa um pedaço grande de madeira, como se fosse uma parte de um tronco de ár­vore que dificilmente caberia dentro da cabeça de alguém, muito menos no olho. Se um cisco, por ser tão pe­queno, a ponto de não ser visto, faz a pessoa sofrer, uma trave no olho torna-se algo quase grotesco, por causa de seu tamanho. O que é a tra­ve! O dr. Campbell Morgan diz que "não é um pecado vulgar. A pessoa culpada de um grande pecado nun­ca critica quem tenha cometido uma pequena transgressão". O homem pode ver um cisco no olho do irmão, algo errado na vida dele que não de­veria estar ali. Porém, não deve ser cego a ponto de não enxergar a tra­ve que está em seu olho, uma falha ainda maior do que aquela que ele observa na vida do irmão.

Nosso Senhor nos adverte seria­mente do grande defeito de sermos acusadores, o que é muitas vezes encarado mais como deficiência do que pecado. O pecado do espírito é pior do que o da carne. 

"Não há ou­tro pecado tão explosivo, tão destrutivo, tão condenado, quanto o espírito que exerce um julgamento com atitude de recriminação sobre outra pessoa [...] A recriminação presta atenção ao cisco e critica o ir­mão. Essa recriminação é uma tra­ve que cega o homem." 

Se nos apro­ximamos de um irmão que tem um cisco no olho com amor e não no es­pírito de condenação e censura, Deus vai-nos julgar da mesma maneira. Podemos concluir o seguinte com base no ensino do Senhor:

1. Os que encontram defeitos nos outros sempre têm as mesmas falhas que reprovam. "Você sempre pode conhecer as fraquezas de alguém por aquilo que essa pessoa detesta [...] A vespa reclama das picadas das ou­tras pessoas [...] O seu defeito pode ter uma aparência diferente da fal­ta de quem o ofende, mas essencial­mente você possui os defeitos pelos quais tem antipatia."

2. Os que encontram defeitos nos outros podem ter as falhas que reprovam em maior escala do que o seu próximo. Essa forma de encontrar defeitos normalmente é evidenciada por hipocrisia, ao afirmarmos que somos livres dos defeitos que, de modo geral ou específico, apontamos nos outros. Os que pensam assim devem tomar as devidas providênci­as para curar as suas falhas, em vez de tentar sarar as dos outros.

3. Jamais julguemos, a não ser que seja nosso dever fazê-lo; e, se o fizermos, devemos condenar a ofen­sa, não o ofendido; pois devemos li­mitar o nosso julgamento ao lado terreno da falha cometida, não in­terferirmos no relacionamento da pessoa com Deus, que enxerga o co­ração e sabe tudo sobre a ignorância e as enfermidades que podem redu­zir o peso da culpa dos pecados das pessoas. 

Se tivermos de corrigir al­guém, que não seja com reprovação áspera, mas pelo exemplo de humil­dade, amor e oração. "O céu é o mun­do do amor", diz Glover, "e o amor se harmoniza com ele, sendo dele a es­sência. A aspereza destituída de amor é mais apropriada para a he­rança da perdição. Cultive o caráter que se sentiria em casa, se estivesse no céu".


Pastor Gil Corrêa
Diretor, escritor e pesquisador
Ministério Adonai
O Portal do Saber.
08/2014.