O
consumo de pílulas de ereção por jovens em busca de maior desempenho sexual
triplicou e ameaça torna-los dependentes da nova droga.
O estagiário de Direito Rui Bernardes, de 25 anos, estava
fissurado por uma gatinha há mais de um mês. Chegou o dia do encontro fatal e
ele não teve dúvidas: tomou um remedinho para garantir um desempenho jamais
visto e deixar a gata “transtornada”.
O analista financeiro Mateus Silva, 27 anos, gay assumido,
costuma usar anabolizantes sexuais em noites arrasadoras de sexo – a dois ou a
dez.
O estudante Sergio Meirelles, de 23 anos, sempre leva um
comprimido para as festas.
Estes são três exemplos brasileiros de um fenômeno que
está preocupando especialistas americanos: o uso recreativo de drogas para a
disfunção erétil como o Viagra (do Laboratório Pfizer), o Cialis (do
laboratório Lilly) e o Levitra (do Glaxo e Bayer). Para a pesquisadora
americana Laura Philipp, do Grinnel College, os remédios de ereção prometem
virar mais uma droga da “cultura da pílula mágica”.
Homens de menos de 45 anos adotaram a droga para
incrementar a performance na cama. Sem enfrentar seus problemas emocionais, a
juventude pode se tornar, segundo Laura, dependente de mais essa droga – uma
dependência psicológica, já que não há danos conhecidos em pessoas “normais”.
A Empresa americana Express Scripts, que acompanha a venda
de medicamentos nos EUA, revela que o consumo de Viagra triplicou entre menores
de 45 anos, de 1998 a 2002. No Brasil, estudo feito em 2003 pela Fiocruz e pela
USP mostra que 20% dos jovens com menos de 30 anos sofrem de disfunção erétil
em algum grau.
Esta seria a razão, não tão “festiva”, segundo os médicos,
para o uso da droga em fins de semana. Para o sexólogo Amaury Mendes Júnior, os
jovens de hoje adotaram o estilo de quanto mais melhor. O endocrinologista
Hélio Ventura confirma que as pílulas de ereção tornaram-se a nova droga social
da juventude carioca. Já os médicos advertem que o droga só deve ser usada
apenas por pessoas que tenham disfunção erétil.
Assim como o Viagra, o Levitra deve ser usado
exclusivamente em casos de disfunção erétil, embora não cause danos ou efeitos
colaterais a pessoas normais.
O jovem que recorre a droga geralmente tem algum tipo de
insegurança, ou medo de falhar. Fernando Martins, gerente médico do Laboratório
Lilly, que fabrica o Cialis, diz que estes jovens têm problemas sexuais. Ele
cita estudos feitos pela USP, patrocinado pela Lilly, nos quais 40% de 3 mil
homens entre 18 a 40 anos – ou seja, 1.200 – revelaram algum grau de disfunção
erétil.
A psicanalista Dulce Silveira acha muito triste o fenômeno
social de jovens que tentam buscar numa pílula a solução para seus problemas
emocionais: - “Esses jovens não sabem se ver como seres humanos, que amam,
sofrem e são passíveis de falhas. Se não olharem para dentro de si mesmos, vão
sempre depender de algo exterior que os transforme em heróis do sexo ou do
prazer imediato”.
Para o sexólogo Amaury Mendes Júnior, os jovens estão
desorientados porque não conseguem ligar o sexo à afetividade. O envolvimento
afetivo é mais complexo, requer habilidades emocionais e eles se decidem pelo
caminho de quanto mais sexo melhor.
A qualidade, e não a quantidade, enfim é que faz a
diferença e a longevidade de um relacionamento, segundo muitas mulheres.