domingo, 1 de abril de 2012

O risco dos anabolizantes sexuais

 

O consumo de pílulas de ereção por jovens em busca de maior desempenho sexual triplicou e ameaça torna-los dependentes da nova droga.


O estagiário de Direito Rui Bernardes, de 25 anos, estava fissurado por uma gatinha há mais de um mês. Chegou o dia do encontro fatal e ele não teve dúvidas: tomou um remedinho para garantir um desempenho jamais visto e deixar a gata “transtornada”.


O analista financeiro Mateus Silva, 27 anos, gay assumido, costuma usar anabolizantes sexuais em noites arrasadoras de sexo – a dois ou a dez.


O estudante Sergio Meirelles, de 23 anos, sempre leva um comprimido para as festas.


Estes são três exemplos brasileiros de um fenômeno que está preocupando especialistas americanos: o uso recreativo de drogas para a disfunção erétil como o Viagra (do Laboratório Pfizer), o Cialis (do laboratório Lilly) e o Levitra (do Glaxo e Bayer). Para a pesquisadora americana Laura Philipp, do Grinnel College, os remédios de ereção prometem virar mais uma droga da “cultura da pílula mágica”.


Homens de menos de 45 anos adotaram a droga para incrementar a performance na cama. Sem enfrentar seus problemas emocionais, a juventude pode se tornar, segundo Laura, dependente de mais essa droga – uma dependência psicológica, já que não há danos conhecidos em pessoas “normais”.


A Empresa americana Express Scripts, que acompanha a venda de medicamentos nos EUA, revela que o consumo de Viagra triplicou entre menores de 45 anos, de 1998 a 2002. No Brasil, estudo feito em 2003 pela Fiocruz e pela USP mostra que 20% dos jovens com menos de 30 anos sofrem de disfunção erétil em algum grau.


Esta seria a razão, não tão “festiva”, segundo os médicos, para o uso da droga em fins de semana. Para o sexólogo Amaury Mendes Júnior, os jovens de hoje adotaram o estilo de quanto mais melhor. O endocrinologista Hélio Ventura confirma que as pílulas de ereção tornaram-se a nova droga social da juventude carioca. Já os médicos advertem que o droga só deve ser usada apenas por pessoas que tenham disfunção erétil.


Assim como o Viagra, o Levitra deve ser usado exclusivamente em casos de disfunção erétil, embora não cause danos ou efeitos colaterais a pessoas normais.


O jovem que recorre a droga geralmente tem algum tipo de insegurança, ou medo de falhar. Fernando Martins, gerente médico do Laboratório Lilly, que fabrica o Cialis, diz que estes jovens têm problemas sexuais. Ele cita estudos feitos pela USP, patrocinado pela Lilly, nos quais 40% de 3 mil homens entre 18 a 40 anos – ou seja, 1.200 – revelaram algum grau de disfunção erétil.


A psicanalista Dulce Silveira acha muito triste o fenômeno social de jovens que tentam buscar numa pílula a solução para seus problemas emocionais: - “Esses jovens não sabem se ver como seres humanos, que amam, sofrem e são passíveis de falhas. Se não olharem para dentro de si mesmos, vão sempre depender de algo exterior que os transforme em heróis do sexo ou do prazer imediato”.


Para o sexólogo Amaury Mendes Júnior, os jovens estão desorientados porque não conseguem ligar o sexo à afetividade. O envolvimento afetivo é mais complexo, requer habilidades emocionais e eles se decidem pelo caminho de quanto mais sexo melhor.


A qualidade, e não a quantidade, enfim é que faz a diferença e a longevidade de um relacionamento, segundo muitas mulheres.